terça-feira, fevereiro 24, 2009

CARTAS DE CARNAVAL: ILUSÃO E AFLIÇÃO, QUASE FICCÃO.


QUASE FICÇÃO

Esses são os planos prá esse carnaval.
Mais um feriado chegando.
Dias que são bons prá curtir a cidade.
Pensei - Vamos aproveitar prá comprar o tênis que nosso filho pediu.
Vamos estreiar o título do clube que acabamos de comprar.
Podemos aproveitar prá conferir se roupa barato é no centro da cidade que vamos encontrar.
O feriado começa prá nós na sexta-feira, exatamente ás dezoito horas, horário em que ele sai do trabalho.
Nada é perfeito, ele não vai passar o feriado inteiro junto com a gente, mas três dias com ele junto da gente, já é muito tempo, quando não se tem tempo nenhum.
E o feriado começa.
Fomos ao clube estava cheio, afinal era feriado, mas ninguém tinha pressa prá ir trabalhar, então ficavámos alí sem hora prá sair.
O shopping foi o programa da noite, estava bem movimentado, mas ninguém se incomodava com isso, estavámos passeando.
No outro dia fomos ao clube novamente, nada me deixa mais feliz do que vê-los juntos alí, é uma sensação tão boa que tudo desaparece ao nosso redor, só ficamos nós. Somos uma família real.
Aí! a segunda-feira chegou!
Então resolvemos ir para o bairro do Bom retiro, não permitimos que as crianças fossem, esse era um programa que precisávamos mais do que queríamos fazê-lo, e qual não foi a frustração. As lojas estavam fechadas, mas aquilo também não nos aborreceu, andamos mais um pouco e encontramos a rua José Paulino que é a rua que procurávamos, encontramos algumas lojas abertas, todas lotadas.
Andamos muito, rimos um pouco, suamos demais, compramos também menos do que rimos e do que suamos, mas compramos.
Voltamos prá casa, choveu muito naquela tarde, dormimos um pouco e jantamos barato.

Prá ele o feriado acabou, prá nós ainda não, amanhã é terça-feira de carnaval e ficaremos sozinhos como sempre ficamos. Mas sabemos que ele pensa em nós como nós pensamos nele.
O carnaval não ví, ele passou e não faço nem idéia de quem desfilou, muito menos que escola ganhou, quem bebeu e quem deu show. Mas em compensação ficamos todos os dias colados um no outro até dizer chega.



Ainda bem que não saí de casa nesse feriado.



ILUSÃO E AFLIÇÃO:


Imagina só se eu tivesse ido prá praia com todo aquele trânsito e falta de água, coisa que é muito comum nesses dias.

Eu não agüentaria aquela areia roçando no meio das minhas pernas, entrando embaixo das minhas unhas.

Um desfile de corpos de todos os tamanhos e cores estirados como se fossem roupa pra quarar ou carne prá charquear.

As cenas presenciadas se repentem insistentemente.

A mulher que bate a toalha para livrar-se da areia, e que o vento trás toda em minha direção. Por que é claro que a praia estava tão apinhada de gente, que mesmo que ela soubesse não conseguiria ser educada.
Aquele caldo meloso misturado a areia que escorre pelo corpo da criança que passa com um sorvete derretido nas mãos, não conseguindo mais distinguir qual era o sabor do sorvete ou do ranho que descia das suas narinas, e mistura-se em sua boca depois de uma crise de choro causada pelo derretimento do seu doce preferido.
Muito próximo da água vejo um atleta numa corrida matinal, fazendo uma deprimente exibição de seus músculos, ele vem acompanhado por um gigantesco animal preso há uma coleira.E ao seu encontro, vem uma mocinha que no despertar de suas frágeis formas trás seu pequeno poodle desesperado para sair daquele ambiente tão hostil á sua natureza.E não podendo deixar de perceber, vejo que apenas a extremidade das guias ocupam um pequeno lugar nas mãos dessas pessoas , mantendo-as assim, distantes o suficiente de seus animais.


Enquanto nos obriga a dividir essa tão esperada areia com as fezes de seus bichinhos de estimação.

E enquanto o movimento contínuo das águas que tráz incessantemente a areia, e num piscar de olhos a leva de volta.


Muita aflição só de lembrar.
Dentro de casa, sinto nos lençóis da cama aquela sensação de aspereza causada pela areia.

Sem contar o continuo zumbido durante toda à noite,principalmente quando se esquece o repelente.

Em todos os cantos que se toca tem areia.

Areia!

Você simplesmente não tem para onde fugir.
Dividimos o dia com o suor, o calor, a areia e a falta de educação e bom gosto.
Durante as noites, os lugares são todos lotados e barulhentos,o atendimento acaba tornando-se péssimo.
Existe ainda a possibilidade da previsão do tempo errar, o que é muito comum. E os dias serem chuvosos, tornando-se intermináveis.
Tem gente que não gosta do campo, odeia pernilongo, sapo, cheiro de baygom.
Desculpe!
Eu não gosto de praia.
Eu não gosto de areia.
Nos dias mais quentes testamos nossa resistência física ao ingerirmos uma enorme quantia daquele liquido gelado que desce por nossas gargantas, proporcionando muito prazer e frescor.
Deixando, alguns de pilequinho, e outros num lastimável estado de embriaguez, que faz você prometer que será essa, a última viajem com aquela pessoa .

Mas claro! Nunca fazendo-o desistir de ir para a praia nos longos feriados.

Perde-se um amigo, mas a praia, jamais!

Talvez se considerarmos o cheiro único, o som intenso que o mar nos trás,em qualquer hora, seja do dia ou da noite,mesmo estando chovendo, acaba sendo uma mistura de odores que nos excita.

O deslumbramento das crianças num mundo tão exótico e diverso, repleto de possibilidades e desafios, por mais desfavoráveis que sejam suas condições.

Aquela atração e fascínio causada pelo mar às fazem esquecer todos os dissabores diante daquele gigante.
Talvez, possa entender esse comportamento.
Um despojamento seguro e tão natural daquelas pessoas.
Que é capaz de nos causar inveja.

Imaginar todas as viagens que um único grão de areia já fez, e descobrir quantas vezes já se teve vontade de estar no lugar dele.
O testemunho da vida e da morte numa seqüência ininterrupta realizada pelas ondas.


A liberdade incondicional perdida na imensidão do horizonte.


E tristemente, conviver amando e odiando esses opostos sem ao menos percebê-los.


E principalmente, compreendê-los na sua mais simples e absoluta totalidade.


É! Pela areia tenho aflição.


Pelo mar tenho paixão.



Um comentário:

Dona Sra. Urtigão disse...

Ótima sua revelação. Confesso: gosto demais de praia, convivo bem com areia, desde que não tenha gente perto. É,não gosto muito de gente ao vivo. O mal da praia não é a areia, são os praianos.